"O EROTISMO É UMA DAS BASES DO CONHECIMENTO DE NÓS PRÓPRIOS,
TÃO INDISPENSÁVEL COMO A POESIA."
[Anais Nin]


terça-feira, abril 3

TU...



existe a noite,
profunda
e impenetrável
[e existes tu]

existe o dia
que me me perturba
e silencia
[e existes tu]

existem os cenários
velozes
dos compromissos,
os rostos anônimos
ou conhecidos,
os desnecessários,
[mas acima de tudo
existes tu]

Tu és
enredo de mistério,
cenários sobrepostos,
histórias soltas
nas asas sonolentas
da minha madrugada.

[Pois tu existes,
acima de tudo mais]

[Foto: Web]
[MENDONÇA, Silvia - 30/05/2011]

O DOM QUE EMANA DA FLOR SECRETA



Sou Vênus, aquela que nasceu das espumas borbulhantes do mar.

Acolhida pelas águas do oceano, tive minha feminilidade desabrochada, feito rosa, por essa origem encantada.

Cresci Afrodite, conhecida como a "deusa dourada", porque concedo o brilho da luz àqueles que são tomados pela energia de Eros, deus da sensualidade e do amor.

Ouvi dizer que distribuías flores; as secretas flores colhidas de entre as minhas pernas, no jardim onde me encontrastes adormecida, para dar a todas as mulheres, tanto as que amam como as que não são amadas.

Não, não vim punir-te.

Ao contrário: vim ajudar-te em teu "trabalho", concedendo a toda aquela, agraciada com esta flor, minha energia vital, para que possa obter o brilho de admiração nos olhares masculinos, a autopercepção de sua região sensual, exercendo a sedução sem moralismos, compromissos ou fidelidades.

Esta flor é única, bela e secreta, como dizes, poeta.

Ela é a chave para o coração de qualquer homem.

Tendo-a em seu poder, toda mulher será uma amante plena e absoluta, tanto faz se o seu relacionamento dure uma hora ou uma vida inteira.

Ao me despedir, deixo um grande ensinamento: sinta a vida pulsando no presente, no aqui e agora.

Porém, tome cuidado: existe o risco de sua sensualidade exuberante assustar, mais do que atrair.

Por isso, seja sábia: a capacidade de entrega no amor começa pela conquista do que há de mais autêntico e verdadeiro no coração do outro.

Este é o dom maior que emana da flor secreta.

Quem ama, sabe!

[silvia mendonça]
[Publicado no Recanto das Letras]
[Paraty (RJ), 24 de junho de 2008]

MINTA



Me conte uma mentira.
Tuas piedosas mentiras
Adornam a minha vida
Reforçam os meus sonhos
Excitam o meu corpo
Provocam meus desejos.
Penso que tenho amor
Que transcendo a dor
Que posso me entregar
[corpo e alma]
Mesmo sabendo
Que sou apenas um deles.

[silvia mendonça]
[28/06/2011]
http://sapatinhosvermelhos2012.blogspot.com.br/
http://smendonca.blogspot.com.br/

LOBA URBANA


Cheiro de fêmea
Hormônios erotizados
Desejos volatizados
Vento que os leva
No torpor... [embriaga]
Carne que sente
a loucura da loba]

O corpo suado
O toque... [de leve]
O gemido gritado
O gosto adoçado
Cabelo ao vento
Excitante partilha
Momentos brutais
De alta tensão
na trilha]

[Atrai,
carinhosa,
sensual]

Com garras afiadas
Envolve e domina
Encanto plural
Fascina a presa
Enlaça... [conquista]
Saber profundo
ancestral]

Experiente
Idade... [longevidade]
Com todo vigor
Saborosa e madura
Segura de si
Atrai a atenção
olhar fatal]

Sem rubor
Nem medo
Ou falsos pudores
Fareja... [a caça]
Sabe acender a chama
da paixão]

Conhece segredos
milenares]
O prazer do sexo
Alerta... [os sentidos]
à flor da pele...
tremem]

[A loba
urbana
sou eu]


[Por Silvia Mendonça*]
[21/01/2011]
[Imagem: Google]
[Publicado no Recanto das Letras em 21/01/2011
Código do texto: T2742464]

sábado, março 31

POEMA COMPLETO



queres me conhecer por inteiro?
é possivel.
embora longe das letras
existam apenas vestígios de mim.
pelo caminho, deixo rastros
pegadas sinalizando quem sou.
é só ficares atento
prestar atenção ao que eu escrevo.
poemas também deixam vestígios
por eles se chega a atalhos,
retalhos de toda uma vida.
se quiseres mesmo saber de mim,
procura-me em meu poemas
é neles que estou por completo.

[silvia mendonça]
[01/04/2012]
[Foto: Google]

ÉS MEU DONO



Por que te agitas em
desesperados questionamentos?
Não sou sonho, mas criação tua.
Foste tu quem ergueste o pedestal
em que me encontro,
monumento exposto.

Foram teus poemas que vestiram
meu corpo de pérolas;
deram-me alma de amante,
aura de mistério, destino de mulher
... boca rubra, coração apaixonado.

Não há outro a quem dedico amor
nem com quem me deito
em noites de lua ou bruma.
Não há outro!

Se assim é,
não sou mais de mim,
mas de ti.
Não te cales, pois,
nem abdiques de reivindicar
teus direitos sobre a obra que criastes.

Esqueça as proibições,
as inexistentes perdas:
almeje o que de imenso há em mim,
pois é teu.

Espante das tuas noites o tédio patético,
deixe que o desejo crie asas em minha direção,
pois, assim como tu, reviro-me na cama vazia,
apertando contra os lençóis as pernas,
em múltiplos orgasmos solitários.

Tolo! Não percebes que,
por detrás das cortinas esvoaçantes dos sonhos,
da tua ereção ajeitada em insones gestos,
sou a tal presença que procuras?

Venha, tome posse do que és dono por direito.
Espero-te com a água do banho tépida,
velas a iluminar o quarto,
aromas de rosas vermelhas,
que cederam as pétalas para enfeitar o leito.

Dispa os andrajos de mendigo:
tu és príncipe,
deus, Hércules marmóreo,
que deita sobre mim a lascívia
imprópria a outros olhos
– não aos meus.

Vem, meu real proprietário,
com ou sem ciúmes,
desastres ou impropérios.

No momento de gritar pelo gozo profundo
– e eterno –
libere palavras profanas,
puxe-me pelos cabelos,
morda-me a boca.

[Que não é mais minha.
Quando muito, nossa]

[silvia mendonça]
[setembro de 2008]
[Publicado no Recanto das Letras em 04/09/2008
Código do texto: T1160745]
[Reeditado em 22/06/2010]
[Foto: web]

RAIZ DAS ÁGUAS


A noite serpenteia entre vertentes
[o sono, o sonho, o sexo]
Sem nexo, passeio dedos em carícias
Tentando conhecer-me com mil lentes
Ou apalpar-me em braille feito um cego.

Meus seios nus acendem candeias em mim
Obstinada, feito louca, por morde-los
Por certo, se levo a língua ao regaço
Lamberia o doce algodão das nuvens
Beberia o absinto das estrelas.

Tanjo dedos entre pelos
Penteio a cabeleira cósmica
Onde, sonâmbula, mas certeira,
Penetro-me a carne em segredo.

Mãos desesperadas passeiam elípticas
Da boca ao ventre, da vulva às nádegas
E gozo dentro do meu próprio escândalo
Molhando as mãos na raiz das águas.


Silvia Mendonça
[Publicado no Recanto das Letras em 14/05/2011
Código do texto: T2969217]
[16/04/2004]
[Foto: web]

BELLE



Belle, busco-te no tempo compassado da minha boca.
Bailas em meus lábios que te procuram tango.
Pernas serpente me entrelaçam num rasgo de vontades
Domínios em que gemes e pronuncias o meu nome.

Belle, teu sorriso de labaredas azuladas, revela-te
Teus rasgos de vontades, vícios de carinho, consomem-te
Tateio tua orquídea em solo vulcânico, jorra-te
Passeio por tuas vielas seminuas, lambuza-te

Belle, há um ciclone perturbador em minha língua
Que te despe das sedas em que dormes
Desocultando teu gemido, grunhindo rebeliões
Penetrando nas entranhas dos teus vãos incendiados.

Belle, és acorrentada de liberdades
Inventa-te a ti mesma, de dentro para fora.
Entrando em mim mordendo amoras.
Teus gritos ansiando despir a noite.

Belle, não perguntas, tomas;
Não respondes, revelas,
Despes teus pudores.
Conta os teus amores.

Belle, aproprio-te no agora;
Colho-te na aurora;
Mordo-te no amanhã.
Tempo pincelado entre os dedos

[silvia mendonça]
[10/02/2010]

[* Poema/resposta a Belle, de Tereza Russo (dedicado a Ana Átman,
baseado na canção Belle, da peça O Corcunda de Notre Dame,
romance de Victor Hugo)

SILÊNCIO ABISMAL


nossos silêncios criaram abismos
nascidos das palavras que não dissemos
e que não podiam apenas lamentar questões,
desentendimentos, incompreensões.

no teu proposital silêncio
as palavras, em mim, se encarceram,
outras tomaram o seu lugar:
palavras de dúvidas,
lamentos, tristezas.

foram chegando sorrateiras.
atiraram-se, sem para-quedas,
nos precipícios da suspeita
instalaram-se na mente em surdina
de mãos dadas com tua ausência.

o silêncio ainda paira entre nós,
confuso, incerto, duvidoso,
crescendo na necessidade de uma ponte
entre a tua falta de diálogo
e todos os meus gritos.

um dia em que o acaso crie para nós
um novo cruzar de olhos,
num reencontro inesperado,
as palavras que não dissemos
possam unir o que o silêncio separou...

[silvia mendonça]
[Foto: Web]
[25/06/2011]

MINHA BOCA


Minha boca rubra,
Voraz e úmida,
Desperta de vontades,
Banha-se em saliva,
Lambe e sorve,
O prazer que em teu corpo dorme.

Ah, pequena parte de mim!
Morde-se pela fome do teu desejo,
Destila-se pelo prazer agarrado aos dentes,
Aquece-se pela chama interna de uma prece ardente.

Essa boca que, por agora, ora,
Pede que um milagre se apresente,
No sabor da vida que hiberna, ausente,
No vinho sagrado que avermelha, quente,
No poema tinto que no silêncio, sente.

Minha boca,
Plena de euforia,
Dispõe-se à tua boca.
Não me negues o sabor de um beijo,
Mesmo que roubado.

[Minha boca nada sabia,
do que tua boca dizia.
Vive agora, ato impensado,
nos versos por ti avivados]

[Silvia Mendonça]
[setembro de 2008]
[Publicado no Recanto das Letras em 04/09/2008
Código do texto: T1160711]
[Reeditado em 21/06/2010]
[Foto:Google]

INTERNAÇÃO



Metade da alma da noite
é de água]
e escoa rápida pelos dedos.
Músicas aceleradas na "jaula" do DJ
e as lentas]

A outra metade da alma da noite
é anzol de brasa]
gancho cintilante em meus
pensamentos]

Na dança da moda,
atravesso a moldura dos espelhos.
Dali, de sob a superfície da redoma,
dublo Janis [Joplin]

Sem contar com minha própria voz,
a única fidelidade é a de me transportar,
em paixão]
para o coração de cera
que enclausura e desvela o sonho/sono
de ser Silvia [Mendonça].

Assim, desmancho as tessituras
das horas noturnas]
exausta na resolução de partir,
adormecendo em tempo oásis.

[De volta ao hospital
a "impressão" da primeira noite de muitas]

Grata aos que não desistiram de mim!
Silvia Mendonça*

[21/02/2012]
[Foto: Arquivo Pessoal]

SOUMULHER



Sou mulher!
Sou poetisa,
mulher criativa,
próspera por desejada.

Sou mulher imperfeita,
mas tenho luz própria
- o brilho de noites estreladas.

Sou mulher que tem o poder de ligar um neon na aura
quando quer ser bela.

Sou mulher que traz o doce no olho,
a dissimulação sem leque,
a liquefação de fêmea
sob a ternura de menina.

Sou mulher sem verniz,
mas que ofusca entre as próprias aspas.

Sou mulher incondicional,
que não põe seu homem à deriva por chantagem,
nem procura negar-lhe por essência.

Sou mulher a quem falta o ar
sem o contentamento de ser amada

Sou mulher que se deixa carregar pela cintura,
cheia de dignidade,
praia adentro,
mar afora.

Sou mulher,
magneto sutil,
ligado ao interesse nítido do corpo,
olhando de outro mundo,
mas em posição perfeita
no momento de trocar o controle dos dínamos,
sem perder o tom de prece da cantoria.

Sou mulher que deseja a felicidade das estrelas
e assim não nega combustível ao seu foguete.

Sou mulher que se atira no carro,
no colo, certa como um entardecer.

Sou mulher que não recua diante do seu feminino
nem do que é sagrado ao seu homem.

Sou mulher que gosta de estoques de excitação,
que abre fendas no tempo para a saciedade.

Sou mulher-fada,
sem pressa em usar o poder do encantamento,
sorridente de magia e predisposição.

Sou mulher que expõe desejos,
que repete os versos idílicos de seu homem,
espantada por não tê-los escritos,
sem esconder que estes foram certeiros.

Sou mulher adulta,
não tardia:
aquela que não se mede pelo virar do calendário
nem pela conta dos dias.

Sou, por isso,
e por tudo isso,
aquela cujos olhos brilham ao saber que a potência,
a criatividade e a paixão de seu homem apontam para si.

Satisfeita em minhas vontades,
sirvo-lhe poemas matinais,
se é poesia que ele quer,
para voltar do cosmo,
após o gozo vencido.

E café na cama,
comidas afrodisíacas,
carinho construído como paisagem na manhã dourada.

Sou mulher,
nua,
lua apaixonada!

Mulher que ferve ao sentir-se desejada
e despeja o caldo do prazer sobre seu poeta
com toda a luz de estar presente

Mulher que vai despida ao jardim
buscar uma flor para as carícias do seu homem.

Mulher que prepara o quarto com surpresas:
olhares no silêncio,
lágrimas de paixão,
espasmos e arrepios,
lenços de seda depois de um banho de estrelas.

Mulher que serve ao seu homem,
como amante,
sem pressa,
para que ele saiba regular nas pupilas
o despertar ou o fulminar de tua ereção.

Caso queira,
volto a ser criança
o tempo suficiente para mostrar-lhe
como se brinca com as próprias luzes,
iluminando o quarto ao seu lado.

Ah, como acredito em meu homem,
pois este troca gestos e acaricia com o olhar,
sinaliza desejos em palavras.

Sinaliza o amor como sendo troca,
a única coisa que vale qualquer preço:
vale trocar de mundo,
de pulmão,
de medo,
de profissão,
de paradigma.

Tristes são os amantes
que não tangem o sagrado num ato de amor.

A poesia que une nossos corações é vínculo:
não precisa anel de compromisso
nem subir, vestida de noiva, escadarias de catedrais.

Se procura por uma mulher com tesão em si própria
e disposta a trocar fluidos – do genital ao metafísico -,
feliz por ter um amor,
sábia a ponto de ensinar com a pele que,
ao largo das sócio biologias
imperativo mesmo é unir duas almas
em estado de troca,
aqui estou.

Aqui estou para unir-me a ele,
e doar-me,
muito além das subdivisões,
sob suas mãos incansáveis
para expressar sonhos táteis.

Sejamos, pois,
poesia e leveza,
que permitem a eterna juventude aos que amam,
pelo menos enquanto amam.

Beijo-lhe os olhos sem medo,
sem arrependimento,
pois este é arte do depois.

Beijo-lhe,
então,
com coragem!

Não dá pra ser feliz
e ter medo de amar ao mesmo tempo.

Amor é presente!


[MENDONÇA, Silvia]
[Recanto das Letras]
[URL: http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/1063883]
[04/07/2008]
[Foto:Arquivo Pessoal]

ABSINTA-ME


Brinde comigo
corpos despidos
sorrisos despudorados
olhares lascivos.

Nos lábios
gosto absinto
vulgar arthemisia
sofisticado Pernoud.

Entrega letal
verdes sonhos
loucos gênios
amante fada.

Bela festa
na tela
Picasso
Van Gogh.

Poética mesa
água ritual
Hemingway
Verlaine.

Ab-sinta-me
Toma-me
Na mistura
Que bebes!

[SILVIA MENDONÇA]
[Publicado no Recanto das Letras
Pirenópolis (GO), 30 de agosto de 2008]
[Foto: Web]

A DANÇA DAS HORAS



entre o amanhecer
e o entardecer,
saberás
quantas horas o meu tempo tem?
são longas, meu amor,
vividas minuto a minuto,
pois não estás aqui.

são horas pesadas,
que escorrem na memória,
brotam nas lágrimas,
gritam na saudade,
inspiram poemas
bem aquém da emoção.

não estão nos relógios,
estas imensas horas,
porque vibram,
secretas,
no mistério do coração.

Ah, meu louco amor
[distante]
nunca saberás quantas horas
o meu solitário dia tem.
entre o amanhecer
e o entardecer.

não vivo o dia,
antes me deixo derramar por inteira,
à beira de uma espécie de eternidade
sobre a qual me faltam palavras
para te explicar
o que afinal é eterno em mim.

...e agora,
que mais uma longa noite se apresenta
vejo-me nua de teus versos
tão ausentes de mim.

deixo-me, então,
envolver-me por densos véus,
odalisca silenciosa
entregue à miragem do teu regresso!

[31/05/2011]
[Publicado no Recanto das Letras em 31/05/2011
Código do texto: T3004489]
[Foto: Google]

LÁBIOS QUE FASCINAM



teus lábios carnudos,
sensuais,
insinuaram subitamente
tocar os meus.
estavam demasiado próximos
para que eu pudesse
fugir do inevitável beijo.

teus lábios carnudos,
[inseguro?]
entre jovens e maduros,
sopravam sobre mim
a frescura dos jardins
e brincavam de sorver
da minha pele
um banquete de delícias.

suas mãos indomáveis
[e gentis]
não sabiam parar quietas,
ou se sabiam, não queriam!
e, indefesa e deslumbrada,
eu vi esses dedos hipnóticos,
[irresistíveis]
caminharem sobre mim
como quem descobre
um mundo novo.

rendida ao teu fascínio
e tu ao meu,
deixei-me ir,
para lá
de todos os horizontes.
bebi de ti
e tu de mim
o sagrado néctar dos deuses.

e num altar de estrelas
fizemos nosso leito
onde, por fim,
em total aceitação,
nos rendemos
ao apelo do corpo
da pele,
do sangue,
do coração vibrante,
da alma inatingível!

[pura explosão
de mundos!
tantos,
todos]

e quando o dia chegou,
descobriu-nos,
almas entrelaçadas
[amantes]
por fim libertas
das distancias
e fronteiras.


[MENDONÇA, Silvia]
[30/05/2011]
[Foto: Web]

DECISÃO...



o bilhete na última gaveta
o tempo no sétimo degrau
próximo ao segundo andar
madeira estala sob os pés
esconderijo de um tempo
que me mantém fechada
armada em tréguas
na batalha do ódio
que sobe a escada
arrasta os móveis
derruba os retratos
tranca a porta
atira fora a chave
pela janela, o corpo...

[Silvia Mendonça]
[Publicado no Recanto das Letras em 21/06/2011
Código do texto: T3048804]
[Foto: Web]


Sabia-me presa na moldura daquele quadro,
olhando impassível os que por mim passavam,
como se aquelas cores perfeitas fossem minhas.

Alguém me pintara assim,
idealizada]
retocada nos pormenores.

Depois de ter me prendido naquela tela,
acrescentou a moldura,
como a porta de uma cela
dourada]

Imaginava-me em preto e branco,
dramática]
ou empinceladas de cores fortes,
revelando todos os contrastes.

Detestava a perfeição
que o pintor me atribuíra,
o que o retrato mostrava.

Culpava-me por ter sido capturada
escondendo os tons escuros
da minha personalidade.

Foi-me doloroso entender
que precisava planejar
uma fuga]

Percebia que o tempo corroía a moldura
[pouco apouco]

Esperei até que a primeira lasca soltou-se.
E depois outra..
E outra]

[Agora,
só uma questão
de paciência]

Em breve a moldura partiria,
deixando-me fugir para um cenário
onde eu pudesse mostrar
as minhas cores mais íntimas
- minhas, somente]

[Sem moldura fixa
Sem enquadramento]

[silvia mendonça]
[25/09/2010]
[Foto: Khames Rommah]

MULHERES E VINHOS


Mulher madura
Não espere o azedar
Do vinho da vida,
Beba-o enquanto, em essência,
Tem o melhor para te ofertar.

Tomada pela embriaguez do tinto
Retire desse néctar todo teu prazer
No ar espalhe aromas buquês
Revele teu êxtase, deixa-te conhecer.

Estenda tuas noite tingidas
Pois esse é o teu melhor momento
Tempo de plantar amor
Dele, colher paixão
De ambos, o inigualável sabor.


[MENDONÇA, Silvia]
[17/05/2011]
[Foto: Web]

sexta-feira, março 30

DESPINDO A NOITE



Noites semblantes deslizam
bronzeando insinuantes corpos]
Penumbras nirvanas fingem esconder
levianos atrevimentos]
Frestas desatentas penetram timidez
colhida em teu tentador olhar]
Feixes de lua desvendam favos de nudez
em tuas cenas vadias]
Avalanche febril revela tatuagem
aos primeiros botões do vestido]

[A dança narra,
mãos falam,
fronteiras desabam
entre o bem e o mal]

Em águas púrpuras modelo seios e pernas em semitons
[concha rara]
Alcanço-me pérola dos mares do Sul, sereia ou mulher
[pressinto agitação]
Marés de domínio embalam crescente strip tease
[a noite vai começar]
Ímpetos deliciosos despem-te o falo obsceno
[o tempo para]
Delírios latejam em meus lábios talhados
[indecente carmim]
Aromas libidos rasgam o ar em gritos úmidos
[safada intimidade]

Loucura fetiche enrosca em dentes
pêlos pubianos]
Gozamos dominação em urros,
entregas, gozos, malícias]
Carícias em licor de pêssego,
entre a banheira e o mar]
Indolente caminha a madrugada
sob os lençóis egípcios]
Rostos adormecem em prateada luz
de fresta réstia]

[A noite eterna,
sem antes ou depois,
confessa aromas
Apoderando-se dos limites
um do outro]


[Dueto:
Durante toda a noite, de Silvia Mendonça
A noite vai começar, de Silroad Saxman
[Agosto/2008]
[Foto:web]

COREOGRAFIA


no palco da noite
no bailado dos corpos
no cenário de sombras
esculpidas em nus
tu danças as mãos
descreves contornos
na minha nudez
eu sou dimensão
danço em teu espaço
despido do cansaço
eternos desejos
volúpia
harmonia
vontade
ao longo de ti
tateio caminhos
no trajeto da boca
e danço contigo
e esqueço a memória
eu sou o teu sangue
na mesma saliva
no mesmo suor
bailamos amantes
gozamos coreografia
 
[MENDONÇA, Silvia - 22/06/2011]
[Foto: Web]

USURPADOR



No indecente atrevimento dos arrepios
Usurpas minhas fronteiras intimidade
Invasão ostensiva, línguas bailarinas
Avançando prazer adentro em finas tramas
Esculpindo-me em poses onduladas, felinas!

O desejo chega, pega, arranha, morde, come
Em gritos sísmicos de obscenidades febris
Beijos em códigos, olhares efervescentes
Mágicos voos tocando-se em rasantes,
Decolando, posando; ora sim, ora não

Na embriaguez desta noite vândala
Curvo-me em boca salivando posse
Sirvo gozo em taças sedentas de libido
Pernas seduzindo cobiças serpentinas
Fecundando sem cerimônia jardins interiores

Teu falo esparrama-se em magma
Vulcão ardente, tão tu (do) em mim
Erupção pulsante em meu esconderijo
Jeito e trejeito de (me) ter e gozar
E depois querer tudo ao contrário!


[silvia mendonça]
[17/05/2010]
[Publicado no Recanto das Letras em 18/05/2010
Código do texto: T2265065]